O novo comandante-geral da Polícia Nacional de Angola defendeu o combate à criminalidade com um policiamento de proximidade, mas que recorra a efectivos “menos arrogantes, mais educados e disponíveis para ajudar quem solicita essa ajuda”.
A teoria é boa. Fica, contudo, a dúvida se agentes habituados – por estímulo e cobertura superior – a pôr a razão da força acima da força da razão, a disparar primeiro e a perguntar depois, serão capazes de ser “menos arrogantes, mais educados e disponíveis para ajudar”.
O comissário-geral Alfredo Mingas “Panda”, que discursava numa cerimónia de apresentação aos efectivos dos órgãos centrais, do comando provincial de Luanda e membros do Conselho Consultivo da Polícia Nacional angolana, defendeu a realização de um encontro para colher experiências e sucessos de outras realidades, sobre o policiamento de proximidade.
Alfredo Mingas, que se encontra no cargo há uma semana, referiu que se pretende, com o policiamento de proximidade, ir além da colocação de patrulhas apeadas no interior dos bairros.
“Devemos trabalhar com o comando superior ou propormos ao comando superior a organização de um encontro sobre modelos de policiamento de proximidade existentes a fim de aprendermos as experiências e sucessos de outras realidades”, disse Alfredo Mingas, em declarações divulgadas pela rádio pública.
Por outro lado, defendeu mudanças que permitam melhorar o funcionamento e condições dos efectivos, sublinhando que as chefias têm consciência que “existem efectivos que estão há muitos anos a ostentar a mesma patente”, enquanto “há outros com muito menos tempo de serviço promovidos”.
“Sem que se entenda os critérios que devem ser adoptados, critérios esses que estão além da vontade ou da falta de vontade de determinados chefes”, disse.
De facto, como o Folha 8 revelou na sua última edição impressa, efectivos da Polícia Nacional em Luanda e não só, estão bastante descontentes com a situação que se vive na corporação, que consideram como de autêntica desorganização e bandalheira, a ponto de comentar isso entre si, até mesmo nos corredores das suas unidades. Esperam agora que, estando o país sob liderança de João Lourenço e a nomeação do comissário-geral Alfredo Eduardo Mingas “Panda” para comandante-geral da Polícia Nacional, as coisas tomem outro rumo.
De acordo com uma fonte interna da Polícia, um oficial superior que solicitou anonimato por razões óbvias, são diversas as razões que levam ao descontentamento dos efectivos afectos tanto à Polícia Nacional (PN) como ao Serviço de Investigação Criminal (SIC) há já bastante tempo e com conhecimento superior. Porém, as preocupações que afligem a corporação foram sempre menosprezadas pelos comandantes, principalmente pelo anterior comissário-geral, Ambrósio de Lemos, enquanto comandante-geral, por se preocuparem mais com os seus esquemas e negociatas.
No dia 30 de Outubro, num encontro realizado no anfiteatro do Ministério do Interior (Minint), Ambrósio de Lemos jogou a gota de água que fez transbordar o copo, ao afirmar que “não haverá promoções ou graduações por falta de valores no Ministério das Finanças”, entre outras afirmações, que aumentaram o descontentamento dos efectivos, principalmente do pessoal mais antigo, com destaque para os nomeados, dos quais, muitos não ostentam as devidas patentes dos seus postos, funções e/ou equivalências há vários anos.
O que os deixa mais agastados, é o facto de a PN estar cheia de “miúdos” e “meninas”, que entram por esquema, pagando altos valores, e nepotismo, filhos, afilhados, irmãos, sobrinhos, de ambos sexos que, depois da recruta, mesmo na condição de inaptos, em poucos dias já ostentam patentes de diversos escalões, ocupam gabinetes onde não fazem nada e auferem salários superiores aos que há muito vão dando o seu melhor, porque passam logo a ser chefes hierárquicos dos outros.
Continuando, a fonte refere que se vive uma autêntica vergonha na corporação porque estão a encher de efectivos com diversas patentes, para depois se ver até um oficial superior, a patrulhar uma rua, a mandar parar carros para pedir “gasosa” sem qualquer pejo.
Os antigos, disse, são humilhados e obrigados a fazer continência a inaptos, que nem aguentam com o peso de uma AKM às costas, porque são “filhinhos de papá” ou afilhados deste e daquele.
Ninguém é contra o rejuvenescimento da corporação, porque o tempo passa e as pessoas envelhecem. A injecção de sangue novo tem e deve ser feita consoante as normas e o respeito pela dignidade dos antigos. Devia-se renovar para melhorar e não para encher de vícios e atitudes a todos os títulos contrárias às normas que norteiam uma polícia que se preze enquanto instituição de segurança e protecção dos bens do Estado e, sobretudo, do cidadão e da vida humana.
A fonte refere que, este facto, está a transformar a PN numa organização fraca onde a corrupção, que já vem de longe, se tornou uma condição “sine qua non” do polícia. A indisciplina reina na corporação, os agentes só trabalham para “pentear” e, no fim do dia, dividem a “gasosa” com o chefe. É incrível, mas hoje, um polícia não consegue desarmar uma pistola, ou uma faca a um bandido; os polícias tremem de medo e fogem ao confronto com meliantes juvenis, não patrulham de noite por medo.
Folha 8 com Lusa